Por que uma canção sobre a exploração de mineiros fez tanto sucesso no mundo?

"Você carrega 16 toneladas, o que você consegue? Fica um dia mais velho e mais endividado", diz a letra em inglês da clássica "Sixteen Tons", uma canção sobre a vida de um carvoeiro, escrita pelo cantor country Merle Travis, em 1946. No entanto, ela só alcançou o sucesso em 1955, com uma versão de Tennessee Ernie Ford, que atingiu o topo da parada na Billboard. A parte de então "16 Toneladas" virou uma febre mundial. A canção teve um monte de versões ao longo das décadas, nos mais variados estilos e idiomas, devido a sua melodia ser dedicada apenas aqueles cantores que tem um "baixão profundo", como Geoff Castellucci no primeiro vídeo.

Mas a letra da canção também colocava o dedo na ferida de um problema com o sistema trabalhista americano. A frase "outro dia mais velho e mais endividado" do refrão veio de uma carta escrita pelo irmão de Travis, John. Essa e a linha "Devo minha alma à loja da empresa" são uma referência ao sistema de peonagem (servidão por dívidas). Sob esse sistema, os trabalhadores das mineradoras não recebiam em dinheiro; senão que eram pagos com vouchers de crédito intransferíveis que podiam ser trocados apenas por mercadorias vendidas na loja da mineradora. Uma prática bem conhecida no Brasil, inclusive na atualidade.

Isso tornava impossível para os trabalhadores acumular economias. Os mineiros também costumavam viver em dormitórios ou casas da empresa, cujo aluguel era automaticamente deduzido de seu salário. Nos Estados Unidos, o sistema de peonagem persistiu até que as greves dos recém-formados Associação dos Mineiros de Carvão e sindicatos filiados forçaram o fim de tais práticas.

A versão brasileira também fez muito sucesso, no final da década de 1960, com um cantor chamado Noriel Vilela, integrante do grupo vocal Cantores de Ébano. Entretanto, a versão em português passa longe do clássico norte-americano do pop-country-folk, tanto no gênero quanto na letra. O canto de sofrimento dos mineiros explorados, no Brasil virou sambalanço, um ritmo que fazia sucesso na época.