![]() | O sargaço é uma alga marinha comum em regiões tropicais. No litoral do Brasil, por exemplo, existem várias espécies de sargaço que costuma crescer grudado em rochas à beira-mar, mas pode se espalhar pelo oceano. Com efeito, enormes colônias de sargaço boiam nas águas mornas do Atlântico graças às suas vesículas flutuadoras, que funcionam como pequenos balões cheios de ar. Os navegadores europeus da Era dos Descobrimentos narraram histórias escabrosas sobre embarcações aprisionadas no célebre Mar dos Sargaços, região no norte do Caribe que tem uma concentração impressionante dessas plantas flutuando. |

Mas muitas dessas lendas eram exageradas, como comprovou Cristóvão Colombo, o primeiro a descrever o sargaço, em 1492. Mesmo assim, ele passou maus bocados para conduzir a caravela Nina até a América atravessando aquela região sem ventos.
O sargaço também é uma matéria-prima versátil para várias indústrias. Dele se extrai o alginato, substância viscosa usada como goma em adesivos, cosméticos e alimentos. Essa alga também é um ingrediente tradicional na medicina oriental e está sendo estudada em pesquisas de combate ao câncer e à Aids: há sinais de que os polissacarídeos do sargaço ajudam a fortalecer o sistema imunológico e a inibir o crescimento de tumores.

A partir de 2011, quantidades sem precedentes de sargaço começaram a inundar as áreas costeiras em quantidades recordes. As costas do Brasil, do Caribe, do Golfo do México e da costa leste da Flórida viram quantidades da alga chegarem à costa com até um metro de profundidade.
Desde 2011, eventos de inundação cada vez mais fortes ocorreram a cada 2-3 anos. Os recentes eventos de inundação causaram milhões de dólares em perda de receita na indústria do turismo, prejudicando especialmente os pequenos países do Caribe cujas economias são altamente dependentes do turismo sazonal.

Eventos sem precedentes de inundação de sargasso causam uma série de impactos biológicos e ecológicos nas regiões afetadas. A decomposição de grandes quantidades ao longo da costa consome oxigênio, criando grandes zonas de esgotamento de oxigênio, resultando em mortandade de peixes.
A decomposição do sargaço também cria gás sulfídrico, que causa uma série de impactos na saúde dos seres humanos. Durante o evento de inundação do sargaço em 2018, 11.000 casos de toxicidade aguda foram relatados em um período de 8 meses apenas nas ilhas caribenhas de Guadalupe e Martinica.

Mas onde quase todos veem um problema, o jardineiro Omar Vasquez, de Puerto Morelos, no México, viu potencial para criar um novo negócio. Em 2015, quando as algas começaram a aparecer nas margens da Riviera Maya ele viu a oportunidade de transformá-las em sua própria solução sustentável, inclusive colocando-a a serviço das pessoas que mais precisam.
Ele começou a coletar antes que apodrecessem para usar como fertilizante, e a vendê-las em pequenas quantidades para seus clientes. Ele conseguiu algumas licenças e em um ano estava empregando cerca de 300 famílias para limpar as praias para hotéis e resorts locais.

Certo dia lhe ocorreu que poderia transformar o sargaço em tijolos de construção, pois ela já estava sendo usada para fazer outros produtos. Inspirado na memória da casinha de adobe da sua família, ele desenvolveu o Sargablock, um tijolo feito do sargaço que vem expulsando cada vez mais turistas da bela Riviera.
Ele ajustou um misturador para fazer tijolos de adobe para processar 40% de sargaço e 60% de outros materiais orgânicos. A máquina pode produzir 1.000 blocos por dia e, após quatro horas de cozimento ao sol, eles estão secos e prontos para serem usados.

Foi assim que ele construiu a Casa Angelita, a primeira casa de sargaço com o nome de sua mãe, e o Sargablock se tornou um dos primeiros projetos de algas marinhas a ter um começo sólido no estado mexicano de Quintana Roo. A partir daí, o homem ficou determinado a usar o sargasso como material de construção de baixo custo para construir moradias acessíveis em toda a Riviera Maya para que as famílias pudessem morar em suas próprias casas.

- "Uma casa de sargaço pode durar 120 anos, e gostaríamos de ter muitas casas prontas, que serão doadas a famílias carentes", diz Omar. - "Minha visão vai além de gerar lucro. Eu gostaria de ver um país onde os empreendedores locais criam negócios prósperos e sustentáveis que retribuem às suas comunidades."

O homem já foi consultado por interessados de vários países, Brasil no meio, que pedem informação sobre como fazer o tijolo de algas. Todos eles são atingidos com mais força todos os dias pelas algas marinhas que aparecem em suas praias. Talvez seja a maneira da natureza nos dizer para proteger nossos mares. Com a contaminação que criamos ao longo de tantos anos nos diz para cuidarmos do que temos.
Os fatores físicos por trás dos eventos de inundação de sargaço são os ventos predominantes e as correntes da superfície oceânica. O Caribe está localizado em uma região fortemente afetada pelos ventos alísios, fortes e consistentes ventos do nordeste que sopram ar seco cheio de poeira do Saara através do Atlântico. Pesquisadores começaram recentemente a usar imagens de satélite de espectrorradiômetro de resolução moderada e dados de correntes oceânicas para rastrear e prever eventos de inundação com alto nível de precisão.
Os efeitos do desmatamento, escoamento de águas residuais e fertilizantes agrícolas comerciais na facilitação do acúmulo excessivo de nutrientes em ambientes aquáticos e marinhos foram bem estudados e mostraram ser fatores determinantes da eutrofização. Uma vez que os eventos prejudiciais de inundação de sargaço só começaram em 2011, é provável que um limite desconhecido de nutrientes tenha sido alcançado e superado. Dadas as políticas e práticas agrícolas atuais, é improvável que esses eventos de inundação desapareçam por conta própria sem intervenção humana.
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