Grandes morcegos carnívoros também têm um lado fofinho

Os morcegos-espectrais, também conhecidos como carcará-da-amazônia e andirá-guaçu, são criaturas grandes e carnívoras que se alimentam de roedores, pássaros e até mesmo de outros morcegos. No entanto, apesar da reputação assustadora, esses mamíferos voadores (Vampyrum spectrum) também parecem ter um lado dócil. Pesquisadores observaram recentemente uma família de morcegos-espectrais enrolando repetidamente suas asas uns nos outros, aconchegando-se e compartilhando comida.

Isso sugere que eles podem ser mais sociáveis &&e cooperativos do que se pensava anteriormente. Eles descrevem suas descobertas em um novo artigo publicado em 20 de agosto na revista PLOS One.

Apesar de suas envergaduras de quase um metro, os morcegos-espectrais são esquivos e difíceis de estudar, o que significa que os cientistas ainda têm muitas perguntas sem resposta sobre seus estilos de vida. Mas, para o novo artigo, os pesquisadores tiveram uma visão rara e próxima de um poleiro.

Os andirás-guaçus são os maiores morcegos do Hemisfério Ocidental e os maiores morcegos carnívoros do mundo. Apesar do nome científico, Vampyrum spectrum, os morcegos são, na verdade, "falsos" morcegos, que comem carne mas não bebem sangue.

Eles instalaram uma câmera infravermelha sensível a movimentos dentro do tronco oco de uma árvore Manilkara, na província de Guanacaste, Costa Rica, onde já haviam descoberto quatro carcarás-da-amazônia empoleirados. Os pesquisadores suspeitam que as criaturas fossem uma família composta por um macho e uma fêmea adultos, além de filhotes nascidos em anos diferentes.

Então, eles esperaram. A câmera começou a gravar sempre que detectava movimento ao longo de 60 dias, distribuídos ao longo de três meses. Os cientistas acabaram com 502 clipes de aproximadamente um minuto para analisar, incluindo 73 que mostravam encontros sociais ou outros comportamentos interessantes.

Os pesquisadores ficaram surpresos ao ver os morcegos se limpando e dormindo com seus focinhos se tocando enquanto estavam juntos em uma "bola de carinho". Quatro dos clipes mostraram os morcegos aparentemente se abraçando por vários segundos depois que um deles retornou ao poleiro, interações que eram frequentemente acompanhadas por vocalizações de baixa intensidade.

- "Esses são grandes predadores de topo, que podem quebrar ossos com uma mordida, mas, ao mesmo tempo, são muito gentis", disse a autora principal Marisa Tietge, ecologista comportamental do Museu de História Natural de Berlim , acrescentando que ela espera que a nova pesquisa possa ajudar as pessoas a entender os morcegos como animais complexos e inteligentes, em vez de apenas vê-los como criaturas intocáveis &&e assustadoras.

Os cientistas não sabem exatamente por que os morcegos se engajaram nesses comportamentos sociais. Mas suspeitam que tenha algo a ver com o estilo parental da espécie. Os morcegos-espectrais tendem a ser monogâmicos, com ambos os pais ajudando a criar seus filhotes. Os comportamentos cooperativos podem ser uma das chaves para garantir a sobrevivência de seus filhotes.

As filmagens também mostraram os morcegos compartilhando comida uns com os outros em 12 clipes. Quando um morcego adulto retornava ao poleiro com uma carcaça entre os dentes, frequentemente dava sua presa a um morcego mais jovem.

Uma possível explicação para esse comportamento é que isso ajuda os morcegos jovens na transição do leite materno para alimentos sólidos, de acordo com o estudo. Além disso, o morcego macho foi observado trazendo pássaros e camundongos mortos para a fêmea comer enquanto ela amamentava o filhote mais novo.

Surpreendentemente, não houve agressão, nem conflito" em relação às refeições compartilhadas. Os morcegos pareciam entender intuitivamente qual alimento era destinado a eles e qual era destinado aos outros membros da família. Apenas uma vez as câmeras registraram uma aparente disputa por comida, assemelhando-se a um cenário de cabo de guerra.

Os morcegos também foram vistos saindo do poleiro juntos, provavelmente em busca de presas. Isso foi inesperado, pois os cientistas presumiam que andirás-guaçus caçavam sozinhos.

Outros clipes mostraram os morcegos brincando: algumas filmagens capturaram os mamíferos brincando uns com os outros ou perseguindo baratas dentro do tronco da árvore.

Este trabalho também pode ajudar a lançar luz sobre a saúde do ecossistema florestal latino-americano de forma mais ampla.

- "Se sabemos que uma determinada espécie se comporta dessa maneira e, de repente, o comportamento muda, saberemos que algo está errado", concluiu Marisa.