Competição bucólica de 'capar a água' na Escócia é invadida por trapaceiros

A arte ou passatempo de atirar pedras horizontalmente e rente à superfície da água de forma que, na sua trajetória, a pedra richocheteie várias vezes à flor da água, tem vários nomes: "capar a água", "fazer chapeletas", "fazer patinhos", entre muitos outros. Este passatempo já era praticado há milhares de anos em tempos da Antiga Grécia, onde se chamava epostracismo. O poeta Homero descreve uma aposta entre Jasão e Hércules para ver quem conseguia quicar mais vezes uma pedra sobre a água. Também os romanos competiam, mas com conchas marinhas.

Onde há competição, as pessoas encontrarão uma maneira de obter uma vantagem injusta. Isso vale para esportes importantes como o futebol (sobretudo o patrocinado por bets), jogos de mesa como pôquer e agora também para a atividade relativamente inocente de "fazer patinhos", que na verdade está mais na categoria de passatempo e diversão.

De acordo com o The New York Times , a edição de 2025 do Campeonato Mundial de epostracismo na Escócia contou com um número não especificado de competidores tentando manipular suas pedras para obter o máximo de efeito de ricocheteio.

De acordo com as regras da Federação Mundial de Epostracismo, as pedras a serem lançadas na água devem ter 7,6 cm ou menos de largura e ser coletadas naturalmente em Easdale, a ilha escocesa onde a competição anual acontece.

Elas não devem ser alteradas. Mas logo após o início da edição deste ano, houve uma discussão sobre os participantes que poderiam ter triturado as pedras em formatos mais circulares para torná-las mais aerodinâmicas, uma violação flagrante das regras.

O organizador e comentarista Kyle Mathews foi informado sobre a possível melhora no desempenho das pedras durante o desenrolar da competição. Ele abordou os supostos autores em busca de respostas. Os infratores rapidamente cederam às suas perguntas e foram desclassificados da competição. Isso deixou os atletas restantes e suas pedras formadas naturalmente para competir em uma disputa justa.

- "Esta é a primeira vez que atletas me contatam após o evento para relatar suas preocupações", disse ele. - "Então, acho que se isso tivesse acontecido em anos anteriores, eles teriam me contado naquela época."

Lucy Wood venceu a divisão feminina; e Jon Jennings venceu a prova masculina e se tornando o primeiro campeão americano. Ele não deixou se abater por suas próprias suspeitas de má conduta.

- "Vi algumas pedras que pareciam perfeitas demais", disse ele. - "Eu, pessoalmente, prefiro pedras mais quadradas com bordas planas que parecem cortar a água, enquanto as bordas arredondadas parecem galopar pela água. As bordas quadradas e planas também oferecem um pouco mais de aderência."

O campeonato de "fazer chapeletas" começou em 1983 e era realizado esporadicamente até 1997, quando se tornou anual. Participantes e fãs se reúnem em Easdale, uma ilha acessível por balsa com cerca de 60 residentes permanentes.

A ilha fica mais lotada durante a competição, com 400 competidores e mais de 2.000 espectadores. Música ao vivo, churrascos e patrocinadores completam o evento. A renda é revertida para a economia e instituições de caridade da ilha.

Os competidores podem competir nas categorias adulto (16 anos ou mais); júnior (10 a 15 anos); infantil (9 anos ou menos); equipes; e idosos com 60 anos ou mais.

O campo de jogos de 63 metros de comprimento é uma pedreira de ardósia desativada que foi inundada por um maremoto em 1881. Os competidores têm três tentativas para acertar suas pedras, que devem quicar pelo menos duas vezes para serem contabilizadas. As pedras devem passar por um buraco de 7,5 centímetros conhecido como "anel da verdade", o que confirma as dimensões exigidas pela competição.

Atletas experientes concentram-se mais nos dedos para obter o efeito adequado, em vez de apenas girar o pulso. O recorde mundial atual pertence ao mentor de Jennings, Kurt Steiner, que conseguiu 88 saltos em um único lançamento, mas suas pedras são escolhidas a dedo, literalmente.

Se você não precisa seguir as regras oficiais do campeonato, pode se beneficiar de uma pedra mais volumosa e achatada. De acordo com uma pesquisa científica um tanto frívola publicada em 2023, uma pedra robusta com a parte inferior curva pode forçar a água a "empurrá-la" mais alto no ar, proporcionando assim um salto maior. Para saltos máximos, no entanto, pedras mais planas são melhores.

Esta não é a primeira vez que um esporte de apostas relativamente baixas atrai um escândalo de trapaça. Em 2023, dois competidores em uma competição de pesca em Cleveland, Ohio, foram flagrados enchendo seus peixes com chumbadas para ganhar o prêmio de maior pesca.

Como a recompensa em dinheiro era de aproximadamente R$ 150.000, os homens enfrentaram acusações criminais de trapaça. Ambos se declararam culpados em um acordo judicial e passaram 10 dias na prisão. Eles também tiveram suas licenças de pesca cassadas por três anos.