Bolas de isca: um banquete para os olhos e para os golfinhos

Com o frenesi alimentar a todo vapor, a água azul-escura do mar é um turbilhão de movimento. Dezenas de golfinhos surgem de baixo enquanto aves marinhas mergulham debaixo d'água, todas tentando roubar um lanche de uma forma grande e escura que não para de se mover. Olhando mais de perto, este bufê em transformação não é uma criatura única, é um cardume inteiro de peixes. É o que acontece quando predadores como golfinhos, tubarões, atuns e cagarras atacam uma bola de isca, um grupo de peixes tentando se proteger de um ataque faminto de predadores reunindo-se em um aglomerado denso.

- "É raro, mas as baleias de barbatanas, que também se alimentam de pequenos cardumes de peixes, podem se juntar à festa", disse Laura González García, coordenadora científica e técnica da Futurismo Azores Adventures.

As bolas de isca têm tudo a ver com segurança em número. O fato de estarem agrupadas faz com que o peixe pareça um animal muito maior.

- "Essa formação expõe menos peixes aos perigos na periferia da bola", disse Laura, que também é pesquisadora do Instituto de Ciências do Mar – Okeanos da Universidade dos Açores. - "As chances de sobrevivência de um único peixe aumentam drasticamente dentro do grupo."

A linha lateral, órgãos sensoriais que detectam movimento, vibrações e mudanças de pressão, permite que o cardume se mova em perfeita harmonia pois movimentos sincronizados confundem os predadores e dificultam a identificação de um indivíduo do grupo.

Mas essa estratégia de autopreservação nem sempre funciona. Golfinhos inteligentes usam estratégias engenhosas para usar as bolas de isca a seu favor.

Trabalhando em equipe, vários golfinhos cercam a bola para mantê-la confinada, enquanto outros golfinhos nadam através ou nas laterais da bola e aproveitam a oportunidade para caçar.

Eles usam apitos para coordenar e trocam de papéis regularmente para que todos tenham o suficiente para comer, cada um deles engole um peixe de cada vez, de cabeça para baixo, para que ele desça mais facilmente.

Em muitos locais, o grupo pode prender o peixe contra o fundo do mar ou recife, mas em águas profundas — como o arquipélago português dos Açores, os golfinhos cercam o peixe pelas laterais e por baixo.

Bolas de isca são uma tática eficaz de busca por alimento, diminuindo as chances de fuga dos peixes. Se, em vez disso, os golfinhos caçarem um peixe de cada vez e a vítima pretendida escapar, eles desperdiçam muita energia desnecessariamente.

A visão de uma bola de isca movimentada transmite uma sensação de caos organizado, onde todos sabem seu papel e cumprem a missão com precisão milimétrica. É a natureza em sua melhor forma.