Por que os pikas roubam comida dos depósitos de alimentos uns dos outros?

O pika (Otochona). também conhecido como lebre-assobiadora e lágomis, é parente próximo da lebre. Estes pequenos lagomorfos são geralmente nativos de climas frios. O pika-de-orelhas-grandes, por exemplo, não conhece predadores pois vive em altitudes de mais de 6.000 metros no Himalaia. A maioria das espécies vive em encostas rochosas, onde inúmeras fendas estão disponíveis para seu abrigo, embora alguns pikas também construam tocas rudimentares. Mas há algumas espécies escavadoras nativas de estepes abertas.

As mudanças climáticas forçaram algumas populações de pika a restringir sua distribuição a altitudes ainda mais elevadas. Nas zonas onde não existem tais altitudes o animal acaba extinto.

Em dois clipes muito fofos da série "Mammals", da BBC Earth, um pika decidiu que não estava muito a fim de trabalhar preferindo lagartear ao sol. Como qualquer ladrão esperto, o pequeno ladino garantiu que não havia ninguém em casa antes de fugir com o produto do roubo.

Eles esperam durante todo o inverno até que o sol brilhe, para que possam coletar alimentos e construir seus ninhos. Mas alguns indivíduos esperam que seus vizinhos façam o trabalho duro enquanto sentam e esperam o momento perfeito para atacar.

Os pikas que vivem nas rochas exibem três métodos de forrageamento: o primeiro envolve o consumo direto de alimentos durantes as 10 semanas sem neve, o segundo é caracterizado pela coleta de plantas para armazenar em uma "pilha de feno" e o terceiro é roubar o armazenamento alheio.

O "roubo" entre animais é um comportamento comum na natureza, conhecido biologicamente como cleptoparasitismo, e é um excelente exemplo de como a seleção natural opera. Indivíduos que conseguem roubar recursos de forma eficiente aumentam suas chances de sobrevivência e reprodução, sendo, portanto, "aptos" em seu ambiente.

Os pikas roubam comida dos depósitos de alimentos uns dos outros principalmente como uma estratégia de sobrevivência eficiente para garantir que tenham comida suficiente para passar o rigoroso inverno.

Esses animais não hibernam mais, permanecem ativos durante todo o inverno e dependem inteiramente da vegetação que coletam e secam durante os meses de verão. Acumular uma quantidade suficiente de feno é crucial para a sua sobrevivência quando plantas frescas não estão disponíveis.

Roubar forragem já coletada e seca de um vizinho pode ser mais rápido e exigir menos energia do que procurar novas plantas, especialmente à medida que a estação avança e as fontes de alimento se tornam escassas ou exigem deslocamentos mais longos para longe da segurança de sua toca.

Só para que se tenha uma ideia, qualquer um que viva no alto das encostas tem muito trabalho pela frente. Ele deve fazer mais de 1.000 viagens (o vídeo exagera dizendo que é 10.000) em apenas uma temporada para completar sua pilha de feno. Quando não estão roubando um ao outro,eles gostam de emular Freddie Mercury.

Considerando que o animal deverá descer abaixo dos 4.000 metros para encontrar vegetação, o pika deverá percorrer 2 mil km em 10 semanas.

Os pikas são animais solitários e altamente territoriais, e as interações com os vizinhos frequentemente envolvem lutas por território ou roubo de comida. Os próprios montes de feno servem como indicadores visuais de território e estão sujeitos a defesa e furto.

Resumindo, trata-se de um comportamento arriscado, mas potencialmente recompensador, impulsionado pela intensa necessidade de garantir recursos alimentares suficientes para os longos meses de inverno em seu ambiente de alta altitude.