A comunidade solidária de horticultores de vegetais gigantes britânicos

As abóboras são tão grandes quanto a carruagem da Cinderela e tão pesadas que é necessário um trator para içá-las da terra. Abobrinhas imensas e marcadas se projetam do chão como algo saído de um pesadelo fantasmagórico. Os pepinos chegam à altura de uma criança de quatro anos. As cebolas podem alcançar o tamanho de uma cabeça. Para os produtores de vegetais gigantescos da Grã-Bretanha, 2020 foi um ano de safra recorde.

Três recordes mundiais foram estabelecidos na exposição Grow Show deste ano em setembro: o repolho roxo mais pesado do mundo (31,6 kg), o rabanete mais longo (5,6 metros) e a beterraba mais longa (8,6 metros). Este mês, Ian e Stuart Paton, gêmeos de 59 anos de Lymington em Hampshire, cultivaram a abóbora mais pesada de todos os tempos, que pesava monstruosos 1.176,5 kg .

O interesse por esses vegetais desproporcionais aumentou na medida que as pessoas foram obrigadas a passar mais tempo em suas hortas. Mas, no entanto, apesar da colheita premiada de vegetais deste ano, as comemorações e a exposição foram limitadas. Muitos dos eventos em que os produtores normalmente exibiam seus produtos gigantescos foram cancelados, e menos pessoas puderam se maravilhar com os vegetais gigantes.

O que motiva alguém a cultivar vegetais tão enormes que destruiriam a suspensão de um carro familiar comum? O apelo de cultivar esses "monstros" não é difícil de entender. Somente os verdadeiramente tristes teriam dificuldade em esboçar um sorriso ao ver um repolho do tamanho de uma cama de casal.

O cultivo desses colosso é tão ridículo para afirmar a vida quanto é gloriosamente escapista. Além disso, é um desafio técnico. Você pode torná-los maiores a cada ano, então estará sempre melhorando. Por isso muitos desses horticultores veem a atividade mais como um esporte do que um hobby.

Felizmente, grande parte dos produtores -a maioria de homens- abraça a bobagem de tudo isso e adora tirar fotos embalando cebolas como bebês ou empunhando cenouras como sabres de luz. Nestes tempos de ansiedade, insegurança e medo, por que não fugir dos horrores de uma pandemia global contemplando imagens de homens de meia-idade jazendo como Burt Reynolds em seu centro cosmopolita ao lado de abobrinhas gigantescas?

Mas o cultivo de vegetais mastodônticos requer a devoção disciplinada de um monge medieval cuidando de um bebê. Há mesmo quem passe duas horas por dia com suas abóboras, visitando-as de manhã e novamente à noite, quando as cobre com um edredom, para aliviar quaisquer mudanças bruscas de temperatura que possam causar rachaduras. Como resultado, recordes mundiais são continuamente estabelecidos, à medida que as pessoas refinam suas variedades de sementes e suas técnicas, muitas vezes usando estufas e lâmpadas para cultivar suas safras.

Os melhores produtores dos hercúleos vegetais sublimam seus egos à vontade das estações. Em um dia ensolarado de agosto, uma abóbora gigante pode engordar 23 kg por dia; se estiver frio, pode ser apenas 9 kg.

Apesar do fato de que os produtores de vegetais gigantes competem uns com os outros a cada outono, é uma comunidade solidária, onde todos elogiam todos por seus cultivos e se ajudam com dicas e truques. Esse senso de camaradagem pode ser em parte porque, por muito tempo, os horticultores de vegetais gigantes lutaram para ser levados a sério.

Nas principais feiras de horticultura, os horticultores competem em duas categorias: as categorias de hortaliças de "qualidade" e as divisões de hortaliças gigantes. O lote de vegetais de qualidade pode ser esnobe em relação aos produtores de vegetais gigantes, achando que isso é coisa de maluco.

Esses produtores de vegetais extraordinários competem não por dinheiro, mas pela glória e diversão: embora a cena da abóbora gigante nos Estados Unidos seja mais lucrativa, no Reino Unido quase ninguém ganha mais do que 50 libras (uns 360 reais) aqui ou ali em prêmios em dinheiro.

De fato, não dá nem para comer a maioria desses vegetais descomunais, porque são verdadeiramente um asco. Na maioria das vezes, os vegetais são doados aos fazendeiros locais, para ração animal ou transformados em chutney.

É fácil zombar deste mundo curioso de vegetais titânicos, mas o seu cultivo é mais que uma arte e muitas vezes uma tábua de salvação. Há casos de pessoas que se recuperaram de problemas de saúde física e mental cuidando de suas abóboras enormes. Jardinar acaba se tornado um fisioterapia muito bem sucedida.

Há alguma trapaça envolvida para conseguir vegetais tão grandes? Definitivamente não, mas há truques passados de geração a geração: a hora certa de plantar, o uso de nutrientes (esterco ou compostagem), o melhor local do quintal (que fique exposto mais ao sol durante todo o dia), melhoria do pH do solo, e, o principal, a seleção das sementes ano após ano, ainda que existam comércios que vendam sementes propriamente para este tipo de cultivo.

Outra coisa muito importante é a poda. A horticultura não é um hobby do tipo "plante e esqueça". Seus vegetais e ervas requerem alguma manutenção regular, e isso inclui poda. Pode parecer intimidante e quase contraproducente começar a cortar folhas e brotos saudáveis. Mas a realidade é que a poda e retirada de folhas doentes e secas ajuda a planta a concentrar a energia e os recursos na produção de frutas grandes, em vez de crescer em enormes arbustos.

Os horticultores do Alasca usam muito bem esta técnica, frequentemente podando suas plantas para estimular o crescimento saudável do fruto e não da planta. Segundo estes mesmos horticultores, é sempre bom o plantio de outras "plantas companheiras", que sejam mutuamente benéficas entre si.

Mas, o Alasca tem uma vantagem que os britânicos jamais poderão ter: 19 horas de sol por dia. As horas extras de luz solar permitem que a lavoura siga crescendo sem parar, proporcionando aos agricultoresos maiores vegetais saudáveis do mundo, muitas vezes com sementes simples. Este impulso fotossintético também faz com que o produto seja mais adocicado.