![]() | À primeira vista, a pequena aldeia de Daeseong-dong parece uma comunidade agrícola comum na zona rural da Coreia do Sul. Campos de arroz, tratores e casas modestas pontilham a paisagem. Há uma igreja, uma escola primária e até um pequeno cinema. Mas a vida dos aproximadamente 200 residentes é tudo menos comum. Eles são as únicas pessoas que vivem dentro da Zona Desmilitarizada (ZDM), a área tampão de 260 quilômetros de comprimento e 4 de largura que divide a península desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953. A área, apesar do nome, é a fronteira mais militarizada do mundo. |
![Como é viver Zona Desmilitarizada entre as Coreias do Sul e do Norte?](https://imagens.mdig.com.br/mundo/Daeseong_01.jpg)
Soldados sul-coreanos escoltam os agricultores de e para os seus campos todos os dias para mantê-los afastados das minas terrestres dentro daquela que é muitas vezes considerada a fronteira mais fortemente vigiada do mundo.
A apenas 400 metros de distância fica a linha de demarcação que separa a Coreia do Norte e a do Sul, e além dela está a cidade norte-coreana de Kijong-dong, uma "aldeia de propaganda" aparentemente desabitada com um imponente mastro de bandeira de 170 metros de altura, um dos mais altos do mundo.
Kijong-dong, de longe, parece bastante moderna, com edifícios de vários andares pintados em cores vivas que criam a silhueta de um horizonte urbano. Ao cair da noite, os apartamentos iluminam-se com lâmpadas, algo inédito no Norte ou no Sul na década de 1950. Mas é tudo uma grande fachada. Kijong é uma vila fantasma. Ninguém mora lá. Os edifícios são, na verdade, conchas de concreto sem interiores. As lâmpadas funcionam com um temporizador automático e as únicas pessoas à vista são os trabalhadores da manutenção que varrem as ruas para dar a ilusão de atividade e vida na aldeia.
Desde os anos 50, de forma intermitente, as duas aldeias se rivalizam com painéis de alto-falantes a todo volume. Enquanto as grandes baterias de som norte-coreana emitam discursos antiocidentais, óperas comunistas e canções militares norte-coreanas; a sul-coreana toca músicas de grupos femininos populares de k-pop em altos decibéis. Estas emissões são tão altas que os alto-falantes podem ser ouvidos até 20 km território adentro. No entanto, os painéis estão mudos desde o encontro de Kim Jong-un e Moon Jae-in.
Viver nessas condições pode parecer difícil de imaginar, mas Daeseong também tem seus benefícios. Os agricultores ali recebem direitos a um lote de terra de 17 acres por família e normalmente ganham entre 420 e 550 mil reais por ano, muito mais do que o agricultor sul-coreano médio.
Eles também não pagam impostos federais porque a vila está sob o comando das Nações Unidas e os homens são isentos do serviço militar obrigatório da Coreia do Sul. Quase todos os moradores de Daeseong, também chamada de "aldeia da liberdade", são nativos. A única maneira de alguém se mudar para a cidade é se uma mulher se casar com um homem local. Os habitantes são obrigados a passar ao menos 240 dias por ano em Daeseong.
![Como é viver Zona Desmilitarizada entre as Coreias do Sul e do Norte?](https://imagens.mdig.com.br/mundo/Daeseong_02.jpg)
Além de um cinema esporadicamente aberto localizado dentro da prefeitura, não há lojas ou negócios dentro da cidadezinha. Os residentes podem entrar e sair através das barreiras fortemente fortificadas e dos postos de controle da ZDM para cidades e vilas sul-coreanas próximas, como Paju, mas um toque de recolher está em vigor da meia-noite às 5h.
Daeseong tem uma escola primária, com 35 alunos do pré-escolar ao sexto ano, e dentro do edifício bem conservado, a sombra das tensões com a Coreia do Norte parece distante. Obras de arte coloridas dos estudantes decoram as paredes. E as risadas e gritos das crianças reverberam pelos corredores nos intervalos.
Enfrentando a diminuição da população da cidade, a escola permitiu crianças de fora da aldeia, e elas representam agora 25 dos 35 alunos. Elas são atraídas para lá pelas instalações de alta tecnologia, sem mensalidades e pelo bônus exclusivo de aulas de inglês com soldados voluntários dos EUA estacionados dentro da ZDM.
Os alunos praticam exercícios de emergência pelo menos duas vezes por ano, e não têm permissão para sair do campus durante o dia escolar. Mas o diretor disse que os alunos não se incomodam com as circunstâncias incomuns.
A maior ameaça que Daeseong enfrenta pode não vir do Norte, mas das mesmas forças que drenam pequenas cidades e comunidades agrícolas em todo o mundo: a atração da cidade grande. A Coreia do Sul é um país fortemente urbanizado, com mais de 80% da população vivendo em cidades. Cerca de metade dos 51 milhões de habitantes do país estão concentrados na capital, Seul.
O prefeito da cidade disse que a maioria dos jovens da aldeia, incluindo os seus dois filhos em idade escolar, têm ambições que vão além de Daeseong.
- "Não há muito o que fazer aqui além da agricultura. Meus filhos querem se mudar para a cidade quando tiverem idade suficiente, lamentou ele.
Como dissemos parágrafos acima, embora a metade sul da ZDM esteja sob a administração do Comando das Nações Unidas, os residentes de Daeseong-dong são considerados civis sul-coreanos, e sujeitos às leis sul-coreanas. A segurança dos aldeões é fundamental, uma vez que os soldados norte-coreanos podem atravessar e já cruzaram a fronteira. Os visitantes convidados para a aldeia devem solicitar escolta militar com duas semanas de antecedência.
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