
Quando os realejos chegaram a Holanda, os fabricantes de órgãos acharam o instrumento muito pequeno e começaram a fabricar órgãos maiores, conhecidos como draaiorgel, até chegar a algo semelhante aos órgãos-de-feira (ou de igreja) tocados por cartões perfurados com a partitura da música.
Equipados com múltiplas fileiras de tubos e percussão, originalmente construído, o órgão era operado pelo "tocador de realejo", que girava uma grande manivela para acionar tanto o fole quanto o mecanismo de alimentação de cartões.
Quase todos os exemplares na Holanda foram convertidos para transmissão por correia, a partir de um pequeno motor a bateria, permitindo que o tocador de realejo apenas coletasse dinheiro dos transeuntes.
O youtuber James Dundon, mais conhecido como Mechanical Music Man, restaurou um desses órgãos que ele leva a eventos e festivais para tocar covers da música pop contemporânea. A clássica "Wonderwall" do Oasis é apenas uma da sua incrível coleção de covers com partitura perfurada.
Os draaiorgels tem uma rica história na cultura de música de rua holandesa. Desde o início da década de 1920, era comum coletar moedas nas ruas tocando o draaiorgel, e ainda é uma tradição adorada na Holanda.
Este órgão em particular foi construído pela primeira vez na década de 1930 e restaurado pelo músico Johan Verbeeck na década de 1980. Quando James viu o instrumento ficou maravilhado e o comprou em 2011.
O órgão foi completamente reconstruído e sua distinta fachada esculpida foi lindamente redecorada. Após mais 30 anos encantando o público nas ruas da Holanda, o aparelho levado para o Reino Unido.
Os órgãos de rua holandeses modernos são frequentemente montados em reboques e dimensionados para serem rebocados por uma picape ou outro caminhão leve. Alguns possuem um pequeno motor na parte frontal do chassi, permitindo que sejam autopropulsados.
Na Holanda, o órgão de rua não era muito popular inicialmente, mas graças a diversas empresas de aluguel de órgãos que tinham orgulho de seus instrumentos, o público passou a aceitar melhor o organeiro e, como resultado, a tradição de tocar órgão na rua entrou na cultura holandesa.
A cultura do draaiorgel é tão apreciada na Holanda que hoje dezenas destes aparelhos são exibidos no Museu Speelklok, em Utrecht, e no Draaiorgelmuseum, em Haarlem.
Em muitas cidades da Europa, o realejo não era apenas um instrumento solo, mas também usado por um grupo de músicos como parte de um ato de rua contador de histórias, juntamente com cartazes coloridos e sessões de canto.
Na cidade de Nova York, o afluxo maciço de imigrantes italianos levou a uma situação em que, em 1880, quase um em cada 20 homens italianos em certas áreas eram tocadores de realejo.
Em Nova York, onde macacos eram comumente usados por tocadores de pequenos realejos, o prefeito Fiorello La Guardia proibiu os instrumentos nas ruas em 1935, citando congestionamentos, a "mendicância" inerente à profissão e o papel do crime organizado no aluguel das máquinas.
Uma consequência infeliz foi a destruição de centenas de órgãos, cujos cilindros continham um disco da música popular da época. Antes da invenção do toca-discos, esta era a única gravação permanente dessas músicas.
A lei que proibia os realejos em Nova York foi revogada em 1975, mas esse modo de apresentação musical já havia se tornado obsoleto naquela época.
O realejo chegou ao país no início do século XX, trazido por imigrantes italianos e alemães, e é um símbolo do passado no Brasil, com uma tradição que quase não existe mais.
Raramente vistos hoje em dia, alguns exemplares ainda sobrevivem, especialmente em cidades com forte tradição de imigração, como Pomerode em Santa Catarina, onde, em 2024, um empresário resgatou e construiu um que foi exibido em eventos na Rota do Enxaimel, como a Osterfest.
A maioria dos realejos existentes foram trazidos da Europa no início do século XX e são mantidos como relíquias por colecionadores.
Na minha pequena cidade no sul de Minas tinha um "andante", antiga designação para sem-teto, chamado "Zé Cachorro" que tocava um pequeno realejo surrado pelas ruas em troco de "pratinhas" (moedas). Seu aparelho tocava o hino "Ó, Minas Gerais Ó, Minas Gerais. Ninguém sabe ao certo quem programou o aparelho. Um mistério que "Zé Cachorro" levou para o túmulo, dado que ele era mudo.
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