![]() | Na semana passada falávamos sobre a terceira mais longa migração terrestre, que ocorre quando as zebras migram entre o Parque Nacional Chobe e o Parque Nacional Nxai Pan, em Botsuana, em busca de novos pastos. No entanto, os caribus são frequentemente considerados os responsáveis pelas mais longas migrações terrestres do mundo, embora sem muito respaldo científico, porque nem toda a manada participa da migração. |

No entanto, em 2019, uma equipe internacional de cientistas coletou dados de coleiras com GPS de animais de todo o mundo para responder à questão de qual grande mamífero terrestre migra mais longe.
Reconhecendo que nem todos os mamíferos migram, eles também determinaram a distância percorrida por esses animais ao longo de um ano.
As descobertas da equipe foram publicadas na revista Scientific Reports, contatando que os caribus, de diversas populações, possuem as mais longas migrações existentes no mundo, com distâncias de ida e volta superiores a 3.200 km.
Apesar de apresentarem as mais longas migrações do mundo, algumas espécies se deslocaram mais do que os caribus em um ano e é aqui que a coisa fica muito interessante.

Um lobo-mongol (Canis lupus chanco) se deslocou mais do que os caribus quando se considera todo o seu percurso anual registrado por GPS.
Este lobo-cinzento conquistou o título de maior viajante terrestre, tendo percorrido 7.247 km em um ano. Como assim?
Para se ter uma ideia, seria o equivalente a você caminhar entre Moscou e Lisboa, ou Istambul e Dublin em... um ano.
No entanto, o que chama mais atenção foi o segundo animal que foi mais longe: um tal de khulan (Equus hemionus hemionus), que é uma espécie de asno selvagem mongol, que percorreu 6.800 km.

Lobo-mongol.
O cúmulo da coincidência é que os dados das coleiras indicaram que o lobo estava caçando o burro por toda a Mongólia. Tudo leva a crer que o l0bo alcançou sua presa, ou não...
Outras coletas de dados semelhantes mostraram lobos-mongóis perseguindo asnos e camelos, supostamente alcançando sua presa, mas isso não ocorreu porque o sinal de asnos e camelos apareceram posteriormente se deslocando no rastreador.
A equipe descobriu padrões interessantes entre esses grandes animais em deslocamento. Primeiro, os predadores não apenas conseguem acompanhar suas presas, como muitas vezes precisam se deslocar muito mais durante a busca por alimento.

Khulans.
Na Mongólia, os lobos-cinzentos sempre se deslocavam mais do que suas presas, o khulan e o camelo selvagem. No Alasca, os lobos-cinzentos se deslocavam mais do que o caribu ou o alce.
Segundo, presas menores da mesma região tendiam a se deslocar mais do que os maiores. Por exemplo, os gnus se deslocavam mais do que as zebras no Serengeti, os caribus mais do que os alces no Alasca e os khulans mais do que os camelos selvagens na Mongólia.
Uma possível explicação para esse padrão é que os animais maiores são capazes de utilizar fontes de alimento de menor qualidade, porém mais abundantes, o que lhes permite se deslocar menos no geral. Por fim, taxas de deslocamento mais altas por parte dos herbívoros foram associadas a menor produtividade vegetal.
Quanto menos alimento disponível, mais eles se deslocavam, provavelmente para obter recursos suficientes. Os maiores deslocamentos foram encontrados em áreas com baixíssima perturbação humana, o que destaca os efeitos da fragmentação do habitat e do desenvolvimento humano.
Este mesmo padrão se aplica a formação de manadas ingentes de migração, como acontece com as zebras e com os gnus.
Quando a paisagem seca no Masai Mara, no Quênia, não restando uma gota d'água ou um tufo de gramínea, 1,5 milhão de gnus mudam de mala e cuia para o Serengeti, na Tanzânia, chamada a "Grande Migração".
Mas nem tudo é festa para os gnus. Quando voltam para o Masai Mara, eles devem cruzar o rio Mara, agora com águas revoltas, diferente da água batendo na canela do começo da migração.
E estas correntezas estão lotadas de crocodilos famintos. Os gnus parecem pressentir o perigo e se amontoam na margem relutantes em entrar na água, mas eles não podem abandonar a sua marcha. Até que um deles, mais afobadinho, grita em "gnuês": - "Quem não morre não vê Deus. Uhul!!! Vamos lá galera!!!" Ele toma coragem, se lança no rio e a manada acompanha.
Um meta-estudo concluído em 2017, depois de 5 anos, concluiu que anualmente, na "Batalha do Mara", morrem ao redor de 7.000 gnus, isto é, umas 1.300 toneladas de biomassa equivalente à de dez enormes baleias azuis.
A verdade é que os crocodilos mal consomem uma pequena parte de todo este alimento e são as demais criaturas do rio que fazem um autêntico banquete de carne durante meses.
Os dados do estudo indicaram que a carne dos gnus compõe entre 35 e 50% da dieta dos peixes mais comuns do Mara. Os carniceiros terrestres, como os marabus e abutres, consomem ao redor do 6 a 9% dos tecidos macios. Devido a sua baixa taxa metabólica, os crocodilos devoram apenas 2% dos corpos que ficam no rio.
Esta contribuição dramática distribui nitrogênio ao terreno, além de fósforo e carbono à rede alimentícia do rio. Primeiro os peixes e os carniceiros devoram os tecidos macios, depois os ossos dos gnus vão soltando lentamente seus nutrientes ao sistema, alimentando às algas e influindo na cadeia alimentar durante décadas. A natureza dá seu jeito.
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