Como as crias de tartaruga-pintada descongelam e voltam à vida?

As tartarugas-pintadas (Chrysemys picta), que na verdade são cágados, habitantes resilientes do norte da América do Norte, quando nascem entram em estado de hibernação em seus ninhos subterrâneos rasos. Com a chegada do inverno, seus corações quase param de bater, segundo narra Sir David Attenborough em um trecho de documentário "Planeta Gelado II", e apenas seus cérebros permanecem ativos, e mesmo assim, muito fracamente. As adultas podem sobreviver sem comida ou oxigênio durante 5 meses inteiros, mais tempo que qualquer outro tetrápode.

Essa adaptação para o inverno, uma maravilha única da natureza, depende de um processo chamado superresfriamento. Nesse processo, os fluidos corporais dos filhotes caem abaixo do ponto de congelamento sem congelar completamente.

Essa habilidade extraordinária permite que eles esperem o inverno passar, permanecendo em um estado de animação suspensa até que temperaturas mais quentes despertem seus corpos dormentes.

Lentamente, eles retornam à vida com a chegada da primavera, emergindo quando os recursos alimentares se tornam cada vez mais disponíveis.

Assim como a hibernação em mamíferos, a brumação é uma resposta fisiológica a condições de frio que conserva energia e permite que o animal sobreviva até o retorno do clima quente. Os mamíferos são animais de sangue quente (endotérmicos) e reduzem sua temperatura corporal durante a hibernação.

As tartarugas-pintadas, como todos os répteis, são de sangue frio (ectotérmicas) , portanto, sua temperatura corporal se ajusta à temperatura do ambiente. Elas podem reduzir seu metabolismo em 99% em água quase congelante e sobreviver sem comida ou oxigênio por 5 meses.

No inverno, a água abaixo da superfície congelada pode permanecer acima do ponto de congelamento, protegendo as tartarugas-pintadas adultas do frio extremo da superfície.

Se a temperatura da água cair, as tartarugas adultas não sobreviverão à formação de cristais de gelo em seus tecidos. As tartarugas-pintadas recém-nascidas são a exceção à regra.

Após eclodirem no outono, estes cágados juvenis permanecem em seus ninhos subterrâneos durante todo o inverno. Esses ninhos ficam bem acima da linha de congelamento e experimentam temperaturas frias por meses.

As tartarugas bebês que hibernam possuem reservas de gordura que fornecem a energia necessária para permanecerem no subsolo do final do verão até a primavera sem se alimentar.

Em resposta às temperaturas abaixo de zero, as tartarugas recém-nascidas produzem níveis mais altos de glicose e glicerol, que podem funcionar como uma forma de anticongelante. Um estudo descobriu que as tartarugas recém-nascidas sobreviveram com mais de 50% da água corporal em forma de gelo.

Ainda que alguns mamíferos hibernem, nenhum sobrevive ao congelamento completo do corpo seguido do descongelamento, pois os cristais de gelo rompem as células, causando danos irreparáveis.

Mas alguns animais, como répteis, peixes e insetos, podem sobreviver ao resfriamento extremo diminuindo o metabolismo e mantendo sua vida suspensa.

Supostamente até mesmo humanos, em circunstâncias específicas induzidas por medicamentos anticongelantes poderiam sobreviver ao resfriamento extremo, mas a verdadeira criopreservação e animação de mamíferos complexos ainda são ficção científica.

Em outras palavras, a criogenia, aplicada especificamente com o objetivo de preservar corpos humanos (ou partes deles, como o cérebro) após a morte legal, na esperança de uma futura reanimação, é expediente de empresas duvidosas que ganham muito, mas muito, dinheiro com base no desespero de familiares que sonham em ressuscitar seus entes queridos.

A maioria dos especialistas médicos acredita que a criogenia ainda está longe de se tornar um procedimento viável, se é que um dia isso vai acontecer.

O eticista Arthur L. Caplan, professor de bioética na Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York, diz que a ideia da criônica é ingênua e coisa de filme ruim de ficção científica. A verdade é que o sonho da criônica permanece tão congelado quanto seus sujeitos.