Será que o frio nos deixa mesmo doentes?

Quando a estação fria do ano chega, todos temos reminiscências do consabido conselho de nossas mães: - "Leve a japona Luis Craudio, senão você vai pegar um grande resfriado!" Claro, o senso comum hoje em dia é que - "...isso é bobagem, sentir frio não causa resfriado". Ou será que causa? Quem vence essa batalha de crenças? A correlação entre o clima frio e doenças é evidente. Sabe-se há um aumento significativo de doenças respiratórias, incluindo resfriados e gripe, durante o período de outono e inverno no Brasil.

Infelizmente não existem dados exatos que mostram o percentual de brasileiros que pegam resfriado ou gripar nestas estações, pois as estatísticas de saúde pública geralmente focam em casos graves de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e não em resfriados comuns.

Sem mencionar que se não é por acaso que se chama "resfriado". Mas há alguns pontos importantes a considerar.

Em primeiro lugar: resfriados e gripes são causados por vírus. Se não houver nenhum vírus por perto, ninguém contrairá um resfriado, não importa o quão frio esteja. Simples assim.

Então, por que a correlação com a queda das temperaturas? Bem, esse parece ser um daqueles casos clássicos em que correlação não implica causalidade.

Para começar, as pessoas tendem a ficar em ambientes fechados com muito mais frequência durante o inverno, o que, por sua vez, as coloca em contato com mais pessoas.

Mais pessoas significa mais oportunidades de exposição para a propagação de patógenos. Além disso, a umidade desempenha um papel na disseminação de alguns vírus.

Como a umidade diminui no inverno, o vírus não só se espalha mais facilmente, como o muco nasal resseca.

O muco, que normalmente atua como uma barreira protetora contra patógenos, também resseca o nariz. Por fim, a falta de vitamina D, que obtemos do sol, pode afetar negativamente nosso sistema imunológico.

O fato de ficarmos mais tempo em ambientes fechados e os dias mais curtos do inverno fazem disso um fator importante para a nossa saúde.

Então provamos que nossas mães estavam erradas... certo? Não tão rápido caubói!

Embora alguns estudos anteriores não tenham mostrado correlação com a temperatura, evidências recentes sugerem o contrário.

Um estudo que colocou os pés dos voluntários em bacias com água gelada descobriu que eles eram, de fato, mais propensos a desenvolver sintomas de resfriado comum nos dias seguintes do que aqueles que não fizeram isso.

A hipótese em desenvolvimento por trás desses resultados é que as baixas temperaturas causam constrição dos vasos sanguíneos, o que retarda o acesso dos glóbulos brancos ao vírus, inibindo, em última análise, a resposta imunológica.

Os níveis de cortisol, que pressionam o sistema imunológico, também aumentam com o estresse induzido pela temperatura.

Além disso, estudos em células das vias aéreas de camundongos e humanos descobriram que a reação imunológica ao vírus do resfriado comum é, na verdade, dependente da temperatura.

Células infectadas em temperaturas elevadas têm maior probabilidade de sofrer morte celular programada, para limitar a disseminação da infecção.

Finalmente, estudos do próprio vírus revelaram uma espécie de arma secreta. Em temperaturas de inverno, a camada externa ou envelope do vírus torna-se muito mais rígida e age como um escudo.

Isso permite que ele se espalhe de pessoa para pessoa com muito mais facilidade. Mas em temperaturas quentes, essa camada se torna mais um gel, que não é resistente o suficiente para proteger o vírus contra os elementos. Como resultado, sua capacidade de disseminação fica comprometida.

Então, talvez sua mãe não estivesse tão errada afinal. Um bom meio-termo, saindo mais vezes e bem agasalhado, provavelmente o ajudará a passar o inverno ileso. Ademais, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.