O setor de trabalhadores na fabricação de tesouras é uma das partes importantes, mas desorganizada da indústria indiana. Os funcionários que trabalham nestas oficinas rústicas quase nunca se beneficiam de cuidados de saúde ocupacional.e disposições de segurança. Como resultado, eles sofrem muitos problemas médicos e graves distúrbios. É importante notar que este setor da indústria funciona sem muita inovação e com ferramentas rudimentares apesar de uma série de estudos que denunciam a perigosa prática. |
A indústria de tesouras da cidade de Mirat no estado de Utar Pradexe, Índia, se agrupa em mais ou menos 300 unidades de pequena escala que empregam cerca de 60.000 pessoas. Os artesãos fabricam tesouras para alfaiates, barbeiros e designers de papel.
O mercado de tesouras de Mirat tem ao menos 360 anos. Antes estas tesouras eram fartamente exportadas para Birmânia e Cingapura. Pode ser apócrifo, mas a história, pelo menos nos becos de Mirat, diz que em 1654, um ferreiro local juntou dois facões quando quis cortar couro, criando assim a primeira tesoura conhecida pela humanidade. A arte cresceu no período Mughal e a habilidade foi transmitida de geração em geração.
Diz-se também que as tesouras de Mirat têm origem na tendência da cidade para consumir paan ou folha de bétele, porque um cortador de nozes de bétele precisava de lâminas afiadas. Até o momento, o bazsar kainchi (mercado de tesouras) da cidade ressoa com sons de marteladas e triturações. O mercado de tesouras conta com mais de 300 pequenas unidades que empregam mais milhares de pessoas que fabricam até 16 variedades de tesouras.
Pese o processo rústico de fabricação, as tesouras de Mirat são conhecidas pela sua precisão de corte e têm sido utilizadas há séculos por alfaiates, barbeiros, unidades industriais de vestuário e couro, escritórios e residências particulares. Um ditado popular em Mirat aponta para a longa vida e qualidade das tesouras ali produzidas: - "Dada le potaa barpe", que significa algo comprado pelo avô e que ainda pode ser usado pelo neto.
Cada tesoura passa por uma série de processos, desde afiação e soldagem até polimento. Ao contrário de outras tesouras "de usar e jogar fora", as que saem de Mirat podem ser reafiadas e reutilizadas inúmeras vezes e podem cortar muitas dobras de tecido.
O que diferencia essas tesouras é que elas são feitas de sucata de metal reciclado. Todas as peças necessárias para fazer uma tesoura são recicladas. As lâminas são feitas de aço carbono reciclado, sucata recuperada de ferrovias, ônibus, caminhões e da indústria automobilística, e são revestidas com níquel ou cromo para não enferrujarem.
Os cabos geralmente são feitos de ligas metálicas preparadas a partir da reciclagem de utensílios antigos. As duas lâminas são mantidas juntas por parafusos metálicos ajustáveis, e as lâminas são arqueadas de forma que conseguem atrito e tensão entre as duas bordas.
A maioria dos artesãos aprendeu com os seus mentores ou empregadores através do sistema predominante de aprendizado. Em 2013, as tesouras de Mirat receberam a etiqueta de Indicação Geográfica, que é um sinal que atesta que um produto tem uma origem geográfica específica e possui qualidades especiais, para que nenhuma duplicata possa ser considerada o produto original.
Enquanto os homens fazem todo o trabalho envolvido na fabricação das tesouras, as mulheres são empregadas na embalagem e na verificação de qualidade. A maioria dos funcionários recebe um salário de mais ou menos 500 reais por este trabalho árduo. Pode parecer pouco, mas é com este dinheiro que eles colocam comida na mesa, mas agora o sustento desses artesãos de tesouras pode estar em risco porque tesouras mais baratas, produzidas em massa na China, estão inundando os mercados indianos.
Nos últimos anos, tesouras frágeis, mas mais baratas, feitas à máquina na China e em outros mercados, assumiram o controle. As tesouras chinesas têm melhor acabamento e estilo, mas lógico duram apenas um ano em comparação com a de Mirat.
As pequenas fábricas e oficinas sofrem cortes frequentes de energia e ventilação insuficiente. Os funcionários sofrem frequentemente de doenças respiratórias porque inalam diariamente partículas de poeira metálica; outros sofrem cortes e ferimentos ao realizar operações perigosas, como afiar e soldar.
O ambiente de trabalho e as condições de vida dos funcionários da fabricação de tesouras são pobres e muitas vezes perigosos para a saúde, levando a muitas doenças graves. Assim, foi realizado um estudo para avaliar o perfil de morbidade de trabalhadores selecionados aleatoriamente de cada divisão da indústria. O estudo foi conduzido usando um sistema semiestruturado pré-projetado e pré-testado para descobrir o estado de saúde destas pessoas.
Do total de 300 trabalhadores, todos eram do sexo masculino, 78% tinham mais de 45 anos de idade, 96% muçulmanos, 70% analfabetos, 88% casados, 70% eram de classe baixa, 85% relataram história de tabagismo e 22% faziam uso de álcool.
79% foram avaliados com distúrbios respiratórios que incluíram 40% tosse persistente, 28% asma, 5% tuberculose, 4% alergias no trato respiratório e 2% com doença pulmonar obstrutiva crônica. Outras morbidades predominantes incluíram distúrbios musculoesqueléticos (45%), doença de pele (15%), problemas oculares (10%) e perda auditiva (4%). Todos os males propiciados pelas condições terríveis de trabalho.
Ainda que estes resultados apresentaram uma necessidade preemente de intervenções sustentadas em prol da saúde e segurança dos funcionários, a fim de desenvolver um ambiente de trabalho seguro, a margem de lucro dos donos destas empresas é pequena e eles não tem condições de fazer grandes investimentos. De fato, com a concorrência chinesa e com o aumento do Imposto sobre Bens e Serviços da Índia, muitas unidades do bazsar kainchi estão sendo fechadas.
Os fabricantes, que ainda perseveram, pedem insistentemente ao governo que aumente o imposto de importação sobre tesouras chinesas para que este artesanato antigo possa sobreviver. Eles também solicitam linhas de crédito para que possam investir em novas tecnologias e melhorar as condições de trabalho de seus funcionários. As autoridades, no entanto, olham para o outro lado e dizem que isso depende de decisões políticas.
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Comentários
Depois que conheci as tesouras da Fiskars finlandesa, parei de comprar tesouras. São ultra afiadas, tem uma precisão absurda e duram muitos, muitos anos.