O que realmente acontece quando você cai em águas infestadas de piranhas?

O cinema de Hollywood nos condicionou a pensar que se alguém cair em águas infestadas de piranhas vai ser comido até os ossos, mas será que isso acontece realmente na realidade? Imagine então que você está espiando o Rio Amazonas quando, de repente, perde o equilíbrio e cai. Piranhas se lançam na água que se aproxima rapidamente. Então, você está condenado? Sua queda desencadeará um frenesi alimentar fatal? Para prever seu destino, vamos ver o que sabemos sobre esses cinco gêneros da subfamília Serrasalminae.

Existem mais de 30 espécies de piranhas. Todas vivem nas águas doces da América do Sul e têm uma única fileira de dentes afiados e entrelaçados em cada mandíbula.

Elas usam seus dentes de várias maneiras. Muitas são onívoras e complementam dietas de coisas como insetos, crustáceos, vermes e peixes com frutas, sementes e outras matérias vegetais.

Algumas, como as piranhas-de-barriga-vermelha (ygocentrus nattereri), mais conhecidas como piranhas-vermelhas, tanto caçam quanto se alimentam de restos. E outras, como as piranhas-de-topete (Catoprion mento), têm predileções alimentares específicas, indo quase exclusivamente atrás das escamas de outros peixes.

Espécies como as piranhas-olhos-vermelhos (Serrasalmus rhombeus), são mais solitárias, enquanto as piranhas-vermelhas formam cardumes de 10 a 100.

As piranhas-vermelhas estão entre as mais popularmente retratadas e comumente consideradas como especialmente agressivas. No entanto, sua reputação de caça voraz em cardume é mal informada. Acredita-se que o principal benefício de sua vida em grupo não seja a caça cooperativa, mas sim a proteção contra predadores, dos quais elas têm muitos.

Piranhas-de-barriga-vermelha maiores e maduras tendem a assumir posições privilegiadas, no centro do cardume, onde é mais seguro. E cientistas observaram que piranhas em grupos menores respiram mais rápido, provavelmente porque são mais ansiosas.

Curiosamente, elas também se comunicam. Ao contrair rapidamente músculos especializados acima de suas bexigas natatórias, elas "latem" repetidamente quando estão enfrentando umas às outras ou quando capturadas.

Elas fazem ruídos de pancada quando estão agressivamente em grupos, brigando ou competindo por comida. E quando as coisas pioram ainda mais, elas se perseguem enquanto batem as mandíbulas.

Os pesquisadores suspeitam que esses sons sejam apenas uma amostra de seu repertório geral, que também pode ter alguns usos especiais durante o acasalamento. Mas quando as piranhas-vermelhas ficam agressivas com humanos?

Bem, quando elas mordem as pessoas, isso parece acontecer principalmente em cenários quando estão sendo manuseadas; quando as pessoas estão derramando comida ou limpando seus peixes na água; ou quando as pessoas perturbam as piranhas enquanto os peixes estão acasalando ou guardando seus ovos durante a estação chuvosa.

Acredita-se também que o estresse por fome leve as piranhas-de-barriga-vermelha a um comportamento cada vez mais ousado e agressivo. E isso poderia, teoricamente, resultar em frenesis de alimentação, onde cada peixe tenta obter um pouco de tudo o que encontra na água.

Apesar desse tipo de comportamento ser extremamente raro, rumores sobre isso lançaram à infâmia internacional das piranhas. E isso se deveu em grande parte ao ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt.

Em 1914, ele publicou um livro best-seller no qual chamou as piranhas de "os peixes mais ferozes do mundo" e escreveu que o cheiro de sangue poderia incitá-las a devorar rapidamente uma vaca inteira ou um ser humano vivo.

No entanto, o relato de Theodore é geralmente considerado circunstancial e enganoso. Suspeita-se que o "frenesi alimentar" que ele testemunhou tenha sido o resultado de pessoas que propositalmente mataram de fome as piranhas-vermelhas, dando-lhes a oportunidade de se alimentarem de uma carcaça de vaca, tudo para proporcionar um espetáculo emocionante.

Mas onde estávamos? Ah, sim. Cair em águas infestadas de piranhas. Então, qual é o seu destino? Vamos supor que sejam piranhas-vermelhas. Sendo este o Rio Amazonas, elas deveriam estar se virando bem e não morrendo de fome.

Felizmente, você também não está na água enrolado em um monte de tripas de peixe. E, idealmente, você não está interrompendo uma extravagância de acasalamento de piranhas.

Nesse aso, se você cair as piranhas provavelmente vão evitá-lo. Nadar calma e suavemente ou caminhar até a costa é geralmente recomendado, porque acredita-se que espirrar água atrai as piranhas.

De fato, elas são equipadas com a dentição para causar sérios danos, mas raramente atacam humanos. Geralmente têm coisas melhores para comer. Ao chegar em terra firme, não há frenesi alimentar onde elas esqueletizam seu corpo em minutos. E ao sair da água, você provavelmente fica satisfeito em não encontrar nenhum pedaço de carne faltando.

Ou seja, embora existam muitas histórias e mitos sobre piranhas atacando e matando humanos, evidências documentadas sugerem que as piranhas não são uma ameaça séria para os humanos e ataques fatais são extremamente raros.

Um estudo de 2003, publicado na revista Wilderness & Environmental Medicine, concluiu que historicamente existem apenas três casos documentados de humanos atacados e mordidos por cardumes de piranhas e ainda assim a causa da morte diverge das mordidas com insuficiência cardíaca e afogamento.

Embora haja relatos de pessoas feridas por piranhas, esses ferimentos geralmente são leves e ocorrem com frequência quando as pessoas perturbam o local de nidificação de uma piranha ou quando a comida é escassa, ou quando limpa peixes nas margens de rios.

Como vemos, a percepção pública de que as piranhas são devoradoras de homens baseia-se em grande parte no folclore e na cobertura sensacionalista da mídia. Na realidade, as piranhas são mais propensas a se alimentar de peixes mortos ou moribundos e de pequenos invertebrados.