![]() | - "Se nada mais der certo, pelo menos meu imbigo é pra drento!" Esta pequena parte do nosso corpo há muito esquecida (qual a última vez você olhou detidamente seu umbigo?), que muitos acham ter perdido a função após o nascimento, pode ser uma espécie de bola de cristal para diagnóstico de doenças internas. Pelo menos é isso o que afirma Daniel Baumgardt, professor da Escola de Fisiologia, Farmacologia e Neurociências da Universidade de Bristol, no Reino Unido, em um popular artigo no Conversation. |

Para alguns, são um verdadeiro pesadelo: a onfalofobia, medo de umbigos) é uma condição real. Para outros, são um acessório de moda para exibir em um top cropped ou adornar com um piercing.
Independentemente da sua opinião sobre umbigos, uma coisa é certa: um dia ele ligou você à sua mãe. O cordão umbilical é cortado no nascimento, restando apenas um pequeno coto preso que vai atrofiando e caindo uma ou duas semanas depois.
O que sobra, na maioria dos casos, é uma pequena depressão enrugada. Isso se você tiver um umbigo para dentro, como a maioria de nós -aparentemente 90%- tem. A partir daí, o umbigo parece se tornar redundante, servindo apenas para acumular poeira e fluffs.
Mas essa não é toda a história: seu umbigo tem mais profundidade do que apenas alguns milímetros.
O umbigo é um ponto de acesso para os vasos sanguíneos que transportam sangue para e do feto. Esses vasos vêm da placenta e percorrem o cordão umbilical, revestido pela gelatina de Wharton, um tecido conjuntivo gelatinoso presente no cordão que os isola e protege.
Normalmente, existem três vasos sanguíneos no cordão umbilical. O que transporta oxigênio e nutrientes para o feto é a veia umbilical. Ela passa pelo umbigo e alimenta a circulação fetal em desenvolvimento.
Existem também duas artérias umbilicais, embora estas transportem sangue desoxigenado e resíduos metabólicos, fluindo na direção oposta, de volta para a placenta.
Essa circulação não é necessária após o nascimento do bebê e, uma vez desconectado da placenta, os vasos umbilicais se fecham naturalmente. Mas o pequeno coto do cordão umbilical que permanece preso ainda pode ser útil por um curto período, especialmente em recém-nascidos que não estejam bem.
É possível inserir cateteres para infusão de medicamentos ou coletar amostras de sangue para exames nesses vasos.
O umbigo é uma abertura na parede do abdômen. Um fato pouco conhecido é que, durante o desenvolvimento embrionário, os intestinos precisam sair da cavidade abdominal devido ao espaço limitado, mas retornam algumas semanas depois. Eles fazem isso através do umbigo, passando para o cordão umbilical.
Consequentemente, o umbigo não é apenas um ponto de acesso, mas também um ponto frágil. Uma hérnia umbilical ocorre quando uma porção do intestino se projeta através dessa abertura. Isso pode exigir uma cirurgia para correção.
A Irmã Mary Joseph Dempsey era uma freira que dedicou grande parte de sua vida ao cuidado de pacientes em um hospital do estado norte-americano de Minnesota. Formou-se em enfermagem e, posteriormente, tornou-se assistente cirúrgica do William Mayo. Foi durante esse período que ela fez uma observação interessante.
Naquela época (final do século XIX), os cânceres de abdômen e pélvis eram normalmente diagnosticados muito mais tarde e, infelizmente, muitas vezes em estágios mais avançados.
Esse processo ´é chamado de metástase, no qual um câncer começa em um órgão ou local e depois se espalha para outro.
Mary Joseph observou que alguns pacientes com câncer metastático apresentavam um novo inchaço ou nódulo palpável no umbigo. Ela teve a nobre iniciativa de relatar isso a William, que, evidentemente, não havia notado o achado.
Ele, então, publicou
Foi somente após a morte de Mary e William, ambas em 1939, que outro médico, Hamilton Bailey, corretamente denominou a descoberta de Nódulo da Irmã Mary Joseph.
O nódulo é firme, de coloração variável e surge da disseminação do câncer para o tecido umbilical. Atualmente, é menos comum, pois muitos casos de câncer são diagnosticados precocemente, antes que ocorra uma disseminação extensa.
Outros sinais podem ser observados no umbigo e têm raízes na mitologia. Um exemplo permite estabelecer uma conexão entre o fígado e o umbigo.
A pele ao redor do umbigo possui leitos de veias superficiais que alimentam a circulação sanguínea mais profunda. Elas drenam o sangue para a veia porta hepática, um grande vaso que leva o sangue ao fígado, repleto de nutrientes absorvidos pelo intestino.
Se a pressão na veia porta se tornar muito alta -principalmente como resultado de doenças hepáticas, como a cirrose alcoólica-, a pressão também aumenta nos vasos conectados. As veias têm paredes mais finas do que as artérias e tendem a dilatar sob pressão.
Como resultado, as veias normalmente pequenas ao redor do umbigo dilatam-se e tornam-se visíveis sob a pele, espalhando-se em todas as direções. Essa marca, semelhante a uma cabeça com serpentes no lugar dos cabelos, é chamada de "cabeça de Medusa".
Na mitologia grega, a górgona Medusa, cuja cabeça foi decepada pelo herói Perseu, tinha a capacidade de transformar em pedra qualquer um que a olhasse.
E por falar nisso, toda aquela sujeira, detritos e pele morta em nossos umbigos também merecem uma menção honrosa (ou talvez desonrosa)
A penugem do umbigo é uma coleção de fibras de tecido, células da pele, pelos e suor que se forma no umbigo. É criado quando as fibras da roupa roçam na pele e ficam presas nos pelos ao redor do umbigo, que agem como uma esteira rolante, puxando as fibras para dentro. Esse acúmulo em geral é inofensivo e sua quantidade varia muito de pessoa para pessoa.
No entanto o acúmulo prolongado de fluff dentro da cavidade pode fazer com que ele endureça com o tempo, formando uma massa pétrea chamada onfalólito, ou pedra umbilical, cuja retirada é bem nojenta, como podemos ver no reel abaixo.
Cálculos umbilicais são raros, mas qualquer pessoa pode tê-los. São mais comuns em pessoas com umbigo profundo e naquelas que não praticam hábitos de higiene adequados. São mais frequentes em adultos porque podem levar anos para crescer o suficiente para serem notados.
Como geralmente não causam sintomas, a pessoa pode nem saber que tem um até que ele cresça bastante.
Assim, o umbigo além de falar muito sobre a higiene funciona como uma espécie de bola de cristal confiável para diagnosticar doenças internas. Mas, quanto a considerá-lo uma parte atraente da sua anatomia, é preciso perguntar: você tem umbigo pra drento ou para fora?
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